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sábado, 1 de janeiro de 2022

Resenha: A Menina que Fazia Nevar - Grace McCleen

 

"E então sei que sou imensa e sou pequena, ficarei para sempre e irei em um minuto, sou tão nova quanto um ratinho e tão velha quanto o Himalaia. Estou quieta e estou girando. E, se sou pó, sou também pó das estrelas." p.196

Uma obra fala muito sobre o seu criador, e acho que "A Menina que fazia nevar" tem muito da sua escritora Grace McCleen, que como Judith, nossa narradora e protagonista, foi criada na religião fundamentalista cristã dos últimos dias (Mórmons).

"A Menina que fazia nevar" conta a estória de Judith, uma menina de 10 anos que é criada pelo pai, sem contato com as pessoas de outras religiões, colecionadora de pequenas bugigangas que encontra na rua, e faz do seu quarto o seu mundo! Nele Judith fez uma maquete de mundo: Terra Gloriosa! A menina se vê sozinha a maior parte do tempo pois, seu pai, um homem fechado, taciturno e triste, trabalha a maior parte do tempo na fábrica da cidade e a rotina deles não passa de poucas palavras e estudos bíblicos, e pela  espera do Armagedon (Fim do Mundo).
Judith é alvo constante de gozações na escola, mas a vida da menina começa a sair do eixo quando um colega de classe, Neil, promete enfiar a cabeça dela na privada. Crente que morrerá, com muito medo e sem ter com quem conversar, Judith se desespera, e vê na Terra Gloriosa a única oportunidade de diversão. No domingo após o culto, a garota pensa em como  "os milagres podem ser tão pequenos que as pessoas nem percebem", e ela pensa que seria muito bom se nevasse, pois assim não precisaria ir na escola e nem "morrer" afogada na privada, como prometeu Neil. Então enche sua maquete de espuma de barba, e por "milagre" no dia seguinte, a cidade amanhece coberta de neve. 
Nesse momento inicia a tensão no livro, pois Judith acredita ter poderes, começa a falar com Deus e seu pai anda preocupado demais com uma greve que é instalada na fábrica.
página 300
Eu tenho um carinho especial por livros que são narrados por crianças, pois o universo e a mente infantil é repleta de sonhos, medos, angústias, e uma palavra mal colocada vira uma bola de neve na cabeça e no coração de uma criança.

Judith é uma menina solitária, sem lembranças da mãe a não ser pelo amor que as duas tem pelo artesanato e 4 fotos espalhadas pela casa, julgando não ter o amor do pai e sem amigos ou parentes, ela cria seu mundo, e a religião é um alento perigoso em para seu coração. Ela vê no Armagedon a possibilidade constante de ser feliz e ver seus pais unidos novamente.
Esse livro expressa bem o que a imaginação pode causar em crianças que não tem liberdade para se comunicarem, e o que  podem fazer e sofrer.

É um romance cheio de tensão, é comovente, em certas páginas você quer colocar a menina no colo e dizer que tudo ficará bem...Muito interessante como Grace McCleen conseguiu penetrar na mente de uma menina de 10 anos, e fazer tantos sentimentos se tornarem reais, chego a pensar se não era ela uma "Judith".



 Amei e recomendo a leitura!

Resenha: O Inferno de Gabriel - Sylvain Reynard

 

"...ele me mostrou que um voto é a promessa que o marido faz de que irá amar sua esposa e não só usá-la para o sexo. Ele disse que esse voto expressava a ideia de que fazer amor é um ato de veneração. O marido venera a esposa com seu corpo ao amá-la, se entregar a ela e levá-la ao êxtase". p. 424

Quem quiser ler "O Inferno de Gabriel" pensando na parte "quente" levará um susto, pois apesar do livro conter partes bem sensuais, a maioria são relatos de beijos...beijos de tirar o fôlego!
Na verdade, a leitura é muito mais poética do que qualquer outra coisa, é cercada de sensibilidade e tem como base a estória de Dante e Beatriz - "A Divina Comédia".
A parte do "O Inferno" inspirou o título, e a "A Divina Comédia" a estória acerca de Gabriel e Julia.

Um dia esses jovens se encontraram, e Gabriel descobriu em Julia a sua Beatriz, mas assim como na estória original, o destino os separou por muitos anos.
O segundo reencontro foi no curso de pós graduação, onde Julia tem aula com o seu amado, mas sem que ele se lembre dela, até que o destino os une novamente, porem cada um tem que lutar contra o seu inferno pessoal, seus traumas, seus medos e seu passado.

Gabriel é um professor de 33 anos, extremamente egocêntrico e uma alma atormentada pelo passado. Ele se sente uma pessoa sem alma e sem direito de ser amado, diz possuir todos os 7 pecados capitais.
Julia é uma jovem estudante de 23 anos, filha de pais problemáticos, extremamente tímida e com muito medo e traumas. 

O relacionamento dos dois em principio é dominado pela autoridade e poder do professor que humilha a aluna, contudo o fato de terem "parentes" em comum, os dois se vêem obrigados a se relacionar e se reencontram.
Nesse cenário, Gabriel e Julia precisam se conhecer e se perdoar.

Algumas das obras faladas no livro:

"O Inferno de Gabriel" é muito mais que um livro erótico, na verdade nem considero que tenha conteúdo adulto, as cenas sensuais são lindas, inspiradoras e muito emocionais. 
O livro não tem linguagem vulgar, e em 2 ou 3 momentos alguns palavrões.
São 500 páginas muito bem escritas, personagens muito bem elaborados, o enredo todo amarrado, o mistério é ótimo,  o clima de suspense não deixa o leitor desgrudar do livro, e tudo é desvendado no final! Fora que as as aulas de Gabriel são inspiradoras, te fazem conhecer mais sobre vários escritores medievais, como São Tomás de Aquino e quem não leu "A Divina Comédia" ficará morrendo de vontade de ler.

O segundo título da trilogia sairá em Julho: "O Julgamento de Gabriel".

Resenha: O Lado Bom da Vida - Matthew Quick

 


"...conversando sobre meu gosto por nuvens e sobre como a maioria das pessoas perdeu a habilidade de ver o lado bom das coisas, embora a luz por trás das nuvens seja uma prova quase diária de que ele existe". p.18
Pat é um homem de 34 anos, que ficou 4 anos internado numa clínica psiquiátrica e não se lembra do que aconteceu nos últimos anos e nem quanto tempo ficou no "lugar ruim". Sempre tentando ser otimista, e ver o lado bom da vida, Pat mesmo na atual situação não permite que lhe tirem a esperança de que o "filme" da sua vida terminará com um final feliz.
Um belo dia, a mãe o retira da clínica. Contudo, seu pai não fala com ele,  seu  irmão Jake é uma companhia boa que lhe traz alguma paz e o terapeuta Cliff é um amigo para todas as horas. Pat é um personagem infantilizado, cheio de medos infantis e que precisa sempre da aprovação e do olhar dos pais. Seu pai só fala com ele quando os "Eagles" ganham os jogos, o que faz com que constantemente Pat fique ansioso pelo resultado.
Antes de entrar na clínica, Pat era casado com Nikki, e sua maior meta é voltar para ela, por isso ele se torna um viciado em musculação e corrida, emagrece muito, e tenta sempre ser gentil.
Uma noite é convidado pelo amigo Ronnie para jantar em sua casa, onde lhe é apresentada sua cunhada Tiffany que perdeu o marido há 2 anos. Nesse momento surge o relacionamento meio perturbado e intenso entre os dois.




No filme
Pat (Bradley Cooper) é diagnosticado como bipolar, estava internado há 8 meses numa clinica psiquiátrica em Baltimore até que sua mãe o retira de lá. Em casa, ele tenta controlar seu comportamento explosivo, com musculação e corridas, se nega a tomar os remédios, mas depois de alguns acidentes em casa, acaba tomando. Faz terapia com Cliff, e seu irmão Jake é um tanto "metido". 
O pai (De Niro) perdeu a pensão, e vive de apostas dos jogos dos Eagles. O pai sofre de TOC e todos os 3 homens da família são viciadíssimos nos jogos dos Eagles.
Num jantar na casa do amigo Ronnie ele conhece Tiffany que perdeu seu marido recentemente.
O sonho de Pat é poder entrar em contato com sua esposa Nikki, porem uma ordem judicial não permite nenhum contato entre eles, e por isso, Tiffany e Pat fazem um acordo.

"Ronnie me conta aquilo que acredita ser a história de como Tiffany perdeu o emprego, mas a maneira como conta demonstra que ele está sendo tendencioso. Ele conta a história expondo aquilo que ele chamaria de fatos, sem se importar com o que estava acontecendo na cabeça de Tiffany...Ele não me diz o que Tiffany pensa ou o que está acontecendo no coração dela: os sentimentos horríveis, os impulsos conflitantes, as necessidades, o desespero..." Pág. 72- O Lado Bom da Vida - Matthew Quick Ed Intrísenca

Minhas impressões:
O filme é mais leve e divertido do que o livro, mas vale lembrar que o filme é uma comédia e o livro é um drama.
No filme, Pat é mais adulto, mais capaz de viver em sociedade. No livro, Pat é mais emocional, o leitor entra na alma do personagem.
Tiffany é tão problemática quanto o protagonista, e no filme ela tem todo um carisma, que faz o expectador torce por um final feliz entre eles.
O livro dá uma esfriada no meio do caminho até ficar interessante novamente, porem nele as emoções e sentimentos são muito mais trabalhados, e existem passagens realmente comoventes.
Pat é um sujeito extremamente sensível e passa isso para o leitor.


"Sinto como se o Dr Timbers estivesse certo a meu respeito: não pertenço ao mundo real, porque sou incontrolável e perigoso. Mas é claro que não falo isso a Jake, principalmente porque ele nunca foi internado e não entende qual é a sensação de perder o controle, e agora só quer assistir ao jogo de futebol, e nada disso tem sentido para ele, porque ele nunca foi casado e nunca perdeu alguém como Nikki e não esta tentando nem um pouco melhorar a sua vida, porque ele nunca sentiu o conflito que acontece dentro do meu peito todo maldito dia - as explosões químicas que iluminam meu cérebro como se fosse Quatro de julho e as terríveis necessidades e impulsos..." p. 98
Curiosidade:
O livro de Matthew Quick foi escrito em 2008, e virou filme pelo diretor David Russell em 2012, que quis fazer esse longa para o seu filho que sofre de bipolaridade e tem transtorno obsessivo compulsivo, talvez por isso o diretor fez questão de colocar o TOC em De Niro, já que esse fato que não é mostrado no livro.

Considerações finais:
Vale ver o filme porque é divertido e o livro porque é emotivo e sensível. Vale ler e ver porque ambos tentam mostrar que por pior que uma situação pareça, a nossa busca por felicidade não pode parar, porque sempre tem o lado bom da vida!

Resenha: A Travessia - William Young

 

"A dor é real e verdadeira. Acredite em mim, Tony. Uma transformação sem esforço nem dor, sem sofrimento, sem mudança, sem sensação de perda, é apenas uma ilusão de verdadeira mudança."p 60.
Anthony Spencer é um homem egocêntrico, materialista e racional, mas também é um homem marcado pelas dores do passado, pela perda precoce da mãe, por ter vivido em lares adotivos, pela dor do divórcio, pela morte de seu filho.
Tony foca sua vida em ganhar dinheiro e sempre procura uma resposta racional para tudo o que vive. Distante de Deus e da família, ele embarca numa vida de mentira e solidão.
Um dia Tony tem umm AVC devido a um tumor cerebral, fica em coma no hospital e seu espírito encontra ninguem menos do que Jesus e o Espirito Santo. Nesse encontro, Tony irá entender algumas partes de sua vida, e lhe concederam de presente a dádiva de curar uma pessoa.
Voltando a Terra, ainda em "espírito", Anthony conhece Cabby, um menino com Sindrome de Down, Molly, Lindsay, Maggie e Clarence.
Dividindo seu tempo em participar um pouco da vida de cada uma dessas pessoas, Tony consegue sentir o amor que um tem pelo outro e ver a sua vida de outra maneira.

"Tony, o inferno é acredita e viver na realidade quando ela não é a verdade.

Para quem pensa que ele é um auto ajuda, ou um livro religioso, A Travessia é bem mais que isso. Um livro muito bonito, com uma estória emocionante (não tanto quanto A Cabana que eu amei!), e fala sobre o poder do perdão, da bondade e da fé.
Cheio de passagens bonitas, momentos hilários e de pesamentos profundos, A Travessia é antes de tudo um livro que faz o leitor pensar e reanalisar sua vida.

Resenha: Uma Questão de Confiança - Louise Millar

 




"Então, quando abri a boca para lhe contar a verdade, hesitei.  Ao hesitar, observei a verdade se soltando silenciosamente de minha boca, vagando numa nuvem indistinta de ar condensado e desaparecendo no céu negro como o breu". p. 285

"Uma Questão de Confiança"é um livro viciante, posso dizer que foi um dos que eu mais gostei de ler nesse ano.

Ele conta a estória de 3 mulheres distintas: 
Callie, mãe de Rae, divorciada de Tom. 
Suzy esposa de Jez e mãe de Henry e mais gêmeos; 
Debbs casada com Allen.

Callie mudou-se para a rua há 2 anos com Rae. A menina sofre de um problema cardíaco que esta controlado, porem a mãe vive de cheia de cuidados e medos pela saúde frágil da garota.
Suzy é uma mãe exemplar de 3 meninos, e guarda o desejo de querer uma filha, porem seu marido Jez a rejeita e não a deseja mais.
Debbs é uma senhora de 48 anos, recém casada com Allen, uma mulher um pouco transtornada com seu passado, sofre de transtornos de ansiedade.

Callie vê em Suzy a sua única amiga, já que a vizinhança toda e até as mães do colégio das crianças não querem contato.
Quando Callie recebe uma oferta de emprego e vê aí uma oportunidade de parar de depender financeiramente do pai de Rae, sua vida começa a se complicar. A menina que sempre foi meiga, começa a fazer birra para ir à escola, Suzy a alerta sobre o comportamento estranho que Rae começa a desenvolver, a menina sofre um acidente nas mãos de Debbs.
A polícia é acionada e o histórico de Debbora é apresentado.

Porém até que ponto podemos confiar numa pessoa? Quem é totalmente confiável?

O livro é dividido em 3 narrativas, sendo Callie em 1a pessoa, e Suzy e Debbs em 3a pessoa. Ele narra a vida dessas mulheres comuns, como eu e você, e a estória poderia acontecer com qualquer uma de nós, e isso é o mais interessante.
Suzy é uma mãe que ama demais seus filhos, guarda todas as mágoas para que os meninos não sintam o clima hostil de seu casamento, ela mantem as aparências pelo lar que construiu, mas sente saudade do tempo que foi amada, e sente falta do amor do marido. Acredito que Suzy e Debbs são as personagens mais bem caracterizadas e formadas do livro. O leitor sente o que elas sentem, é impressionante.
Callie é separada e relembra como era bom estar com o pai de Rae, faz tudo pela menina, mas ao mesmo tempo quer independência financeira.
Debbs é professora, tem 48 anos, uma mulher ansiosa e insegura, sofre de manias. Vive fragilizada pelos seus medos e perseguições.

As três mulheres tem segredos e passado que as perturbam. Será que se pode confiar em alguma delas?

A vida delas se enreda de uma forma envolvente e viciante. 
São 382 páginas que voam, pois a escrita é interessante, rápida e fácil
O leitor não consegue parar a leitura. A trama é muito bem formada, é um suspense psicológico maravilhoso.

Vale muito a leitura!!

Resenha: Proteja-me - Juliette Fay

 


"Em parte ela sentia que era como passar por um acidente feio na estrada. Você sabe que não deve reduzir para olhar e, no entanto, de algum modo sempre acaba fazendo isso. Havia algum alívio humano fundamental em ver os resultados de tomadas de decisões erradas, ou de uma reação inadequada ao perigo, ou do puro infortúnio alheio. Faz você se sentir sortudo em comparação, não importa qual seja sua história triste. Vergonhoso, mas humano."
"Proteja-me" começa 3 meses após a morte de Robby.
O marido de Janie morre em um acidente de bicicleta e deixa além da esposa, os filhos Dylan de 4 anos e Carly de apenas alguns meses.
Janie, a nossa protagonista,  se vê desamparada, desesperada e extremamente sozinha, apesar de sua tia Jude e a vizinha Shelby sempre estarem do seu lado.
A melhor forma que encontra para lidar com o luto é a raiva! E nisso, Janie passa boa parte do livro pedindo e concedendo perdão...será que essa é a melhor forma de aprender a se perdoar também?

"A Solidão tem um propósito. Abre espaço para alguma coisa. É feita para nos fazer ir atrás do mundo. Isso não é tão ruim (...) A solidão é dolorosa. Mas o sofrimento não é errado em si. É parte da experi6encia humana, e desse modo, nos aproxima de todo mundo". p. 118

Numa manhã aparece Tug, um empreiteiro que fora contratado por Robby alguns meses antes de sua morte, para fazer uma varanda na parte da frente da casa, Tug logo vira amigo de Dylan.
Também tem o padre Jake que é recrutado para visitar Janie todas as 6a feiras para tentar ajuda-la a suportar a dor e ter alguem para conversar.
Nesse contexto é que a estória de uma sensibilidade desigual e de grande aprendizado acontece. Esse é um romance dramático, que te faz chorar, se emocionar e pensar nele durante horas, dias!

As personagens são extremamente humanas! Tia Jude é uma mulher que criou os filhos da irmã, e que vive para ajudar as outras pessoas.
Tug é um carismático carpinteiro, de 40 e poucos anos, sempre dando um bom conselho ou ajudando Janie. E o padre Jake que é um sujeito meio apagado no início do livro, mas depois, somos tomados por sentimentos por ele, assim como nossa protagonista.

Aos poucos, no decorrer desse 1 ano após a morte de seu marido, Janie vai descobrindo que apesar da sua dor ser grande, as demais pessoas também as tem! Todos temos traumas, medos, sofrimentos, assim como ela.

O livro é extenso, são mais de 440 páginas narrando o dia a dia de Janie, mas em nenhum momento fica cansativo, o leitor entra na vida dessa viúva e começa a sentir o que ela sente.
Tem dias que ela não quer acordar, tem dias que não consegue dormir, tem dias o a única coisa que ela quer é um abrigo, tem dias que ela quer a solidão.

A Autora também trata de questões como pedofilia na igreja, agressões contra a mulher, e síndrome de Asperger.

Esse livro traz em si uma grande lição, se não lições: Podemos sempre ter uma 2a chance na vida, que nos devemos dar uma 2a chance! 
"Estamos todos aqui de empréstimo. A única coisa que faz sentido é ficarmos juntos. p 435
Amei! Recomendo muito!

Resenha: As Virgens Suicidas - Jeffrey Eugenides

 

"O que você está fazendo aqui, meu bem? Você nem tem idade para saber o quanto a vida pode se tornar ruim. - perguntou o médico.
- É óbvio, doutor, ela disse, você nunca foi uma menina de treze anos". p.11

"As virgens suicidas"é um livro tragicômico.
Desde o início você fica sabendo que as 5 irmãs Lisbon suicidam-se, e o grande suspense é saber o motivo!
Tudo começa num subúrbio da década de 70, quando a filha mais nova do casal Lisbon tenta se matar cortando os pulsos. 
O Sr Lisbon é o professor de matemática da escola onde suas 5 filhas: Cecília (13), Lux (14), Bonnie (15), Mary (16) e Therese (17) estudam, sua esposa a Sra Lisbon é uma dona de casa e religiosa fervorosa.
"Naquele instante o sr. Lisbon sentiu que não sabia quem ela era, que filhos eram apenas estranhos com os quais você concorda em morar..." p.58
Cecília é encontrada nua na banheira da casa com os pulsos cortados e um santinho da Virgem Maria nas mãos. Apesar da tentativa, a menina se salva. 
A família então muito rígida, afrouxam as regras e deixam as meninas fazerem uma festinha em casa e chamar alguns meninos da rua. Os garotos são apaixonados por elas, mas principalmente por essa áurea inatingível que elas tem. Essa festa é o acontecimento do ano! Mas nesse mesmo dia, Cecília consegue então acabar com sua vida, se jogando da janela do seu quarto para as flechas da cerca do portão.
Depois disso, a família se fecha, e o contato com as garotas se torna ainda mais difícil.

O livro é narrado por um dos garotos (hoje um senhor) que morava na rua, vinte anos depois dos suicídios.
Durante a narrativa, você tem a possibilidade de ver diversos pontos de vista sobre a família e sobre o que aconteceu. São vizinhos dando opiniões, parentes, colegas de classe...todos em busca do porquê daquelas mortes. Cada um tem uma versão, o que por vezes torna o texto engraçado.
"Na banheira, cozinhando no caldo de seu próprio sangue, Cecília tinha liberado um vírus que as outras meninas contraíram pelo ar, mesmo quando tentaram salvá-la. Ninguém se preocupou em saber como Cecília havia contraído esse vírus. O contágio se tornou sua explicação". p.147
Eu li e fiquei dias pensando antes de fazer a resenha, por que um livro desse tem em si um contexto pesado, apesar dele não ter nada de triste, e o leitor se pega refletindo nas meninas, nas vidas que levavam e o que as motivou, mas acima de tudo, eu fico pensando qual mensagem que o escritor Jeffrey Eugenides quis passar.
Acredito que "As virgens suicidas" é acima de tudo uma crítica ao modo de vida americano, onde a vida parece um comercial de margarina, onde as pessoas sempre parecem felizes, e encabulam dentro de si seus verdadeiros sentimentos.
Ao mesmo tempo, será que as mentes e corações mais sensíveis sabem lidar com esse mundo cheio de imperfeição, com todas as falhas e opressão?
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