Uma obra fala muito sobre o seu criador, e acho que "A Menina que fazia nevar" tem muito da sua escritora Grace McCleen, que como Judith, nossa narradora e protagonista, foi criada na religião fundamentalista cristã dos últimos dias (Mórmons).
"A Menina que fazia nevar" conta a estória de Judith, uma menina de 10 anos que é criada pelo pai, sem contato com as pessoas de outras religiões, colecionadora de pequenas bugigangas que encontra na rua, e faz do seu quarto o seu mundo! Nele Judith fez uma maquete de mundo: Terra Gloriosa! A menina se vê sozinha a maior parte do tempo pois, seu pai, um homem fechado, taciturno e triste, trabalha a maior parte do tempo na fábrica da cidade e a rotina deles não passa de poucas palavras e estudos bíblicos, e pela espera do Armagedon (Fim do Mundo).
Judith é alvo constante de gozações na escola, mas a vida da menina começa a sair do eixo quando um colega de classe, Neil, promete enfiar a cabeça dela na privada. Crente que morrerá, com muito medo e sem ter com quem conversar, Judith se desespera, e vê na Terra Gloriosa a única oportunidade de diversão. No domingo após o culto, a garota pensa em como "os milagres podem ser tão pequenos que as pessoas nem percebem", e ela pensa que seria muito bom se nevasse, pois assim não precisaria ir na escola e nem "morrer" afogada na privada, como prometeu Neil. Então enche sua maquete de espuma de barba, e por "milagre" no dia seguinte, a cidade amanhece coberta de neve.
Nesse momento inicia a tensão no livro, pois Judith acredita ter poderes, começa a falar com Deus e seu pai anda preocupado demais com uma greve que é instalada na fábrica.
página 300 |
Eu tenho um carinho especial por livros que são narrados por crianças, pois o universo e a mente infantil é repleta de sonhos, medos, angústias, e uma palavra mal colocada vira uma bola de neve na cabeça e no coração de uma criança.
Judith é uma menina solitária, sem lembranças da mãe a não ser pelo amor que as duas tem pelo artesanato e 4 fotos espalhadas pela casa, julgando não ter o amor do pai e sem amigos ou parentes, ela cria seu mundo, e a religião é um alento perigoso em para seu coração. Ela vê no Armagedon a possibilidade constante de ser feliz e ver seus pais unidos novamente.
Esse livro expressa bem o que a imaginação pode causar em crianças que não tem liberdade para se comunicarem, e o que podem fazer e sofrer.
É um romance cheio de tensão, é comovente, em certas páginas você quer colocar a menina no colo e dizer que tudo ficará bem...Muito interessante como Grace McCleen conseguiu penetrar na mente de uma menina de 10 anos, e fazer tantos sentimentos se tornarem reais, chego a pensar se não era ela uma "Judith".
Amei e recomendo a leitura!